quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Millôr Fernandes




Quando os eruditos descobriram a língua, ela já estava completamente pronta pelo povo. Os eruditos tiveram apenas que proibir o povo de falar errado.

No principio era o verbo. Defectivo, naturalmente.

Como não é machista, sempre que a frase tem maioria de mulheres o autor usa o pronome feminino [comentando a frase: "Ivan Pinheiro Machado, com as editoras Fernanda Veríssimo e JÓ Saldanha tomaram para elas a próprias..."]

Entre o porque e o por quê a mais bobagem gramatical do que sabedoria semântica.

Por quê? É filosofia. Porque é pretensão.

Está bem, lingüista, se dois é ambos, por que três não é trampos?
As palavras nascem saudáveis e livres, crescem vagabundas e elásticas, vivem informes, informais e dinâmicas. Morrem quando contraem o câncer do significado definitivo e são recolhidas ao CTI dos dicionários.

Devemos ser gratos aos portugueses. Se não fossem eles estaríamos até hoje falando tupi-guarani, uma língua que não entendemos.

É evidente que no princípio foi a interjeição, insopitável pelo espanto diante do fogo, do raio. Depois foi o substantivo para designar a pedra e a chuva. E logo o adjetivo, que fazia tanta falta para ofensas. Mas eles continuam insistindo em que no princípio era o verbo.

Que língua, a nossa!
A palavra oxítona é proparoxítona.

Extraído do Livro:
Millôr Definitivo - A bíblia do caos

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Veríssimo é Veríssimo!


CONTO ERÓTICO
-Assim ?
-É. Assim.
-Mais depressa ?
-Não. Assim está bem. Um pouco mais para...
-Assim ?
-Não, espere.
-Você disse que...
-Eu sei. Vamos recomeçar. Diga quando estiver bem.
-Estava perfeito e você...
-Desculpe.
-Você se descontrolou e perdeu o...
-Eu já pedi desculpa !
-Está bem. Vamos tentar outra vez. Agora.
-Assim ?
-Um pouco mais pra cima.
-Aqui ?
-Quase. Está quase !
-Me diga como você quer. Oh, querido...
-Um pouco mais para baixo.
-Sim.
-Agora para o lado. Rápido !
-Amor, eu...
-Para cima ! Um pouquinho...
-Assim ?
-Aí ! Aí !
-Está bom ?
-Sim. Oh, sim.
-Pronto.
-Não ! Continue.
-Puxa, mas você..
-Olha aí... Agora você...
-Deixa ver...
-Não, não. Mais para cima.
-Aqui ?
-Mais para o lado.
-Assim ?
-Para a esquerda !! O lado esquerdo !
-Aqui ?
-Isso ! Agora coça. 


Luís Fernando Veríssimo

Como é ridículo o amor alheio!

          Quiseste expor teu coração a nu.

 E assim, ouvi-lhe todo o amor alheio.Ah, pobre amigo, nunca saibas tuComo é ridículo o amor...alheio!
                             Mário Quintana