Leoni
Rio de JaneiroHoje é 23 do 3
Guardo pra te dar as cartas que eu não mando
Eu vi alguns amigos
Guardo pra te daras cartas que eu não mando
Alma ao céu
Voltava para casa quando deparei com uma multidão de pessoas se empurrando e disputando a visão do novo espetáculo na rua Dimantina. Curiosos de toda parte vinham presenciar e apreciar o mais novo comentário do bairro um homem que ninguém dera importância estava morrendo.
Acompanhei o corpo, sendo empurrado, até a porta de uma peixaria, e vi de longe quando um senhor gordo e de bigodes lhe arrancou o relógio de pulso, deixando assim apenas o enxame moscas rodear o cadáver.
Estava frio e chuvoso, pessoas passavam na calçada e tinham que desviar para não pisotear o corpo, outros bebericavam no café do outro lado da rua. Muitos dos curiosos já haviam ido para suas casas, pois o espetáculo estava para acabar com a chegada do carro negro da policia.
Não pude ver qual foi a reação do policial alto e magro que se aproximou do corpo, porém pude ouvir quando o cochicho do povo anunciou que seria chamado o rabecão. A chuva engrossou, pessoas já haviam se espalhado, o cadáver ficou ali parado, estirado e sem vida.
Senti um forte sentimento de pena e me lembrei que minha mãe sempre me dizia que a morte deve ser iluminada para que a alma do morto chegue ao céu. Corri então para casa, buscar a única vela que havia, voltei para o local onde o corpo estava e a acendi, porém sem perceber que fui o menino de cor e descalço o único que sentiu piedade do morto.
Zara Abrahão Ramos