sábado, 30 de janeiro de 2010

A beleza fundamental?


A Mulher da página 194

Ela é loira e linda. Tem 20 anos. Modelo profissional. Saiu na utima edição da revista americana Glamour ilustrando uma reportagem sobre autoimagem, e foi o que bastou para causar um rebuliço nos Estados Unidos. A revista recebeu milhares de cartas e e-mails. Razão: a barriga saliente da moça. Teor das mensagens: alivio. Uma mulher com um corpo real.

Nao sei se Lizzie Miller, que ficou conhecida como a mulher da páina 194, já teve filhos, mas é pouco provavel, devido a idade que tem.

No entanto, quem já teve filhos conhece bem aquela dobrinha que se forma ao sentar. E mesmo quem não teve conhece tambem, bastando para isso pesar um pouco mais do que 48 quilos, que o que a maioria das tops pesa. Lizzie nao é um varapau e atua no mercado das modelos plus size, ou seja, de tamanhos grandes. Veste manequim 42, um insulto ao mundo das anoréxicas.

A foto me despertou sentimentos contraditorios. Por mais que estejamos saturados dessa falsa imagem de perfeição feminina que as revistas promovem, tem que se admitir: barriga ?um troço deselegante. é falso dizer que protuberâncias podem ser charmosas. Nao sei.

É que toda mulher possui a sua e isso nao é crime, caso contrario, seriamos todas colegas de penitenciaria. Sem photoshop, na beira da praia, quase ninguém tem corpao, a nao ser que estejamos nos referindo a volume. Se estivermos falando de silhueta de ninfa, perceba: sem tres ou quatro entre centenas. E, nesse aspecto, a foto de Lizzie Miller serve como uma especie de alforria. Principalmente porque ela nao causa repulsa, ao contrario, ela desperta uma forte atração que nao vem do seu abdomen, e sim do seu semblante extremamente saudavel. é o qu essa moça vende, e nao ilusao.

Um generoso sorriso, dentes bem cuidados, cabelos limpos, segurança, satisfaçãoo consigo proprio, inteligência e bom humor: é isso que torna um homem ou uma mulher bonitos. Aquelas meninas magerrimas que ilustram editoriais de moda, quase sempre com cara de quem comeu e nao gostou (ou de quem nao comeu, mas gostaria), sao apenas isso: magerrimas. Nao parecem pessoas felizes. Lizzie Miller dá a impressao de ser uma mulher radiante, e se isso não é sedutor, entao rasgo o diploma de Psicologia que nao tenho. Ela merecia estar na primeira páina, mas, mesmo tendo sido publicada na 194, roubou a cena.

* Texto publicado na página 02 da Zero Hora de hoje (02/09/09)
****************************

E ja dizia Vinícius de Moraes :"As Muito feias que me perdoem, Mas beleza é fundamental" - Poema: Receita de mulher (Vinícios)


Ahh o Amor...



Crônica do Amor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no
ódio vocês combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a
menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama
este cara?

Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura
por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim.

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.



Arnaldo Jabor