quinta-feira, 30 de setembro de 2010

E...

...para um dia reaparecer como novo e mostrar como se faz

por Bruno Reis

Vou zunir.

Quero me enfiar no meio da terra, vazar lá no Japão, correr o tempo todo, sem olhar pra trás. Quero fugir, fugir de mim mesmo, dos meus pensamentos atrapalhados, da minha falta de perspectiva e da minha própria falta de crença em dias melhores. Quero me escafeder, esquecer que esse mundo em que eu vivo é o meu mundo, protagonizado, mas nunca comandado, por mim.


Quero distância de toda dor, toda indiferença, todo esquecimento. Vou passar longe dos problemas que eu causei e não consegui consertar e das soluções que arrumei e foram insuficientes. Não quero nunca mais magoar ninguém, nem ser magoado, nem ver ninguém magoando ninguém, sob pena de tortura chinesa com pingos d'água. Chega de mágoas, de choro, ninguém mais vai tomar uma atitude que machuque quem está por perto. Ouviram, né?

Quero correr mais rápido que a lágrima que desliza olho afora, chegar no bem antes dela chegar ao chão com seu estrondo surdo e sua auto-piedade ridícula. Não quero saber de ninguém mais chorando e se olhando no espelho para ver como fica feio triste e ter mais pena ainda de si mesmo. Vou correr até o fim do mundo, me esconder para não ter que presenciar mais uma paixão desperdiçada, menos um casal feliz, outra decepção sem cara nem coração.

Vou mudar a minha originalidade, vou ter originalidades diferentes, criatividades diferentes, ousadias diferentes. Vou começar a chutar com o pé direito e escrever com a mão esquerda. Vou olhar pra trás e não ver nada, porque começo é assim mesmo, e nada melhor que já começar sabendo um bocado do mundo como no meu caso. Mas, antes deste início, quero atropelar a impossibilidade, desgovernar a minha própria noção da vida. Balançar o coqueiro e ver o coco cair.


Mas para isso eu preciso correr, correr, correr, até me transformar em outra pessoa, com outras qualidades, outros defeitos, outros amores, outras paixões, outras atrações, outras vidas a colocar no meu rol. Não quero mais brincar de ser eu. Quero brincar de ser outra pessoa agora, ta bom? Então me solta, me larga, me joga, me apaga, que eu to indo embora pra voltar depois, zerado,
shape novinho em folha, sem um arranhão. E um coração novo, porque esse aqui já pediu arrego. Até a volta.

Vou zunir"

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