terça-feira, 24 de novembro de 2015
segunda-feira, 15 de junho de 2015
ahhhh... Ismália.. sua louca....quem muito busca, nada alcança!
Ismália
Alphonsus de Guimaraens
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
Para quê BLOG, com o Facebook...
Pois é... aí me perguntam, para quê Blog, se existe o Facebook?
E lá vem meus alunos dizendo: "Nossa Pro. c tem um Blog? Pra quê?"
(Obs.: alguns nem mesmo sabem o que é um Blog).
E lá vou eu... mais uma vez perguntar se no Facebook eles leem alguma coisa?
Até onde eu sei, se aparece um texto um pouco mais longo, eles logo desistem de ler, e partem para ver as imagens.
Criticas á parte, quero registrar que o Blog é um dos meios mais bacanas (acessíveis) de publicar suas Crônicas; OK, pergunte...."Pro. mas o que é crônica?".
Crônica é um gênero (se não sabe o quê é um gênero, procura no caderno, pois eu já disse em sala), uma narração curta, com a finalidade de circular entre a literatura e o jornalismo, no qual você pode passar a sua visão sobre determinado assunto, partindo do pressuposto que você não precisa agradar o leitor, simplesmente expressar suas ideias e opiniões.
Gostou?
Então tente... Ficarei feliz em incentivar você ser um grande Cronista.
Bjs e bjs
Boa escrita.
quarta-feira, 25 de junho de 2014
terça-feira, 1 de abril de 2014
Começando....
A vida começou...
Vou deixar os empregos antigos, pessoas inapropriadas, problemas momentaneamente sem solução, e ademais para trás.....
Hoje eu só quero....
e
Novos projetos....
Começando.
=)
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
Três Mulheres de Três PPPs
Paulo Emilio Sales Gomes, brasileiro, militante politico e fundador do primeiro clube de cinema do Brasil. Escreveu "Três mulheres de três PPPs", clássico brasileiro, que foi cobrado como obra obrigatória nos vestibulares de 1996.
O livro é composto por três narrativas, como se fossem três longos contos, nos quais Polydoro, personagem e narrador, relata cuidadosamente os três enlaces românticos, alguns nem tanto, de sua vida. Mas não chamaremos ele por esse nome, pois seu pavor ao ouvi-lo transforma todo seu amor em rancor, ele odeia seu nome.
Poly, ou P, ou Dior Poly, rico, membro da burguesia intelectual do Rio de Janeiro, dono de uma imobiliária, que frequenta a alta sociedade carioca é domado três vezes, por três diferentes mulheres, que absorvem a narrativa e seus relatos ganham força surpreendente.
Por ser atemporal, os contos ou capítulos, se revelam aos poucos, como se de jovem á velho ele tivesse um pensamento linear, mesmo os fatos não estando em ordem cronológica. Todos os romances mantidos por interesses, trapaças e traições.
Helena, Hermengarda e Ela, três mulheres de personalidade forte que refletem o confronto com a forma passiva, estúpida e com uma profundidade absoluta que ele vive.
Com uma polidez incrível na escrita, vale a pena do começo ao fim.
Zara A. Ramos Reis
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Futuro =)
Nunca produzi tanto, minha produção deslanchou.
Minha mente a 1.000 por hora, na defesa de tese, na produção poética, em esperar 2014 ansiosamente.
Melhoro a cada dia, busco, busco, busco que uma hora encontro.
Minha motivação: meu casamento, meu lindo marido, companheiro, amigo, amante, escudeiro ("Por onde for posso ser seu par").
Que venham os problemas, as soluções, os entendimentos, o futuro.
Que venha a rainha, sua cavalaria, e sua majestade. Me preparo para seu glamour.
Enquanto isso o papai noel me espera montar a linda arvore de natal, e ajudar a quem precisa.
Minha mente a cem, mil, milhão.
Não posso parar...
Zara Reis
=)
terça-feira, 19 de novembro de 2013
Produção poética
O encontro
Tudo começa com um olhar
Quando esperamos um sorriso
No canto da boca a envergonhar
E sem medo um solto riso
Braços a se movimentar aflitos
Em suspiros devaneados
Inquietude no encontro insólito
O flagra dos flertes saboreados
O tempo passa com presteza
Ao menos concebemos a certeza
Que este encontro fulgura
Um sentimento nasce com bravura
Tudo começa com um olhar
Quando esperamos um sorriso
No canto da boca a envergonhar
E sem medo um solto riso
Braços a se movimentar aflitos
Em suspiros devaneados
Inquietude no encontro insólito
O flagra dos flertes saboreados
O tempo passa com presteza
Ao menos concebemos a certeza
Que este encontro fulgura
Um sentimento nasce com bravura
Zara Reis
=)
Filipinas
Indigno-me ao perceber governantes tão omissos e corruptos. Estamos em pleno ano de 2013, com tecnologia avançada ao ponto de dividir a menor partícula existente, mas que não salva vidas, pelo contrário, apenas beneficia os interesses de uma minoria.
A Filipina é um exemplo concreto dessa negligência, o governo soube do tufão com CINCO dias de antecedência, e não avacuou a região. Milhares de pessoas morreram, e as que estão vivas, brigam diariamente para sobreviver.
Falta água, comida e civilidade. Resgatam as pessoas como animais, em grandes comboios, sem ao menos oferecer um mínimo de dignidade. As pessoas estão se matando por comida, o pouco de comida e água que recebem.
E que dignidade e honra o presidente da Filipina teve ao saber que um tufão estava por vir e mesmo assim deixou o seu povo "ao deus dará"? E me diga, onde ele está agora?
Certamente, tomando banho com chuveiro quente e dormindo em lençóis macios.
Deveria estar ajudando a recrutar o povo abandonado, junto com eles brigando por alimento, passando cede e frio.
E agora? Quem paga pelas vidas que se foram?
Pelas famílias que se dissiparam, pela falta de lealdade da minoria?
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
Curitiba - Foz do Iguaçu - Paraguai - Argentina - 5 dias
DICA DE VIAGEM
Hoje quero registrar a experiência de viagem que fizemos em Julho/2013, saímos de São Paulo, de carro, e fomos até Curitiba, tirando o trânsito da Regis e a maravilhosa greve dos caminhoneiros, chegamos á salvo.
Ficamos em um eco hostel (http://www.curitibaecohostel.com.br/), com quarto e banheiro para o casal, o preço é ótimo, e o lugar é bem diferente, bem Zen e natureba. Achei bemmmmm interessante pois o hostel estavam hospedadas pessoas do mundo inteiro, inclusive estudantes da Angola que fazem intercambio na universidade federal.
Em Curitiba passeamos em alguns parques, no centro histórico da cidade, orquidário, passamos no shopping e na ópera de arames.
Jantamos no incrível restaurante Madalosso, e aí fica a dica: não deixem de conhecer o Madalosso, um rodizio de massa, com uma variedade deliciosa, e um preço ótimo (R$ 35,00 por pessoa). Detalhe, esse restaurante é o segundo maior restaurante da América Latina, desde 1963 já recebeu celebridades ultra-famosas. Fica no bairro de Sta. Felicidade, que por sinal é um lindo bairro para passear.
No dia seguinte fizemos o passeio de trem até a cidade de Morretes, o passeio saí da Rodoviária, e desce até o "pé da serra" em Morretes. Um passeio do dia todo, mas que vale super a pena, a vista é linda, e o trem é super divertido. Uma dica, em Morretes (uma cidade minuscula), não deixem de comer o famoso prato barreado, uma carne deliciosaaaaa.
Em seguida partimos de Curitiba para Foz do Iguaçu. Fizemos uma reserva no hotel Kacique Salvatti (http://www.hotelkaciquesalvatti.com.br/hotel.php), um hotel super bemmm localizado, fica ao lado de um hiper-mercado, super bem estruturado, com piscina, serviço de quarto, e um café da manhã caprichado.
Em Foz fizemos os passeios:
- Cataratas do Iguaçu do lado brasileiro (fomos de carro), tentamos fazer o passeio do Macuco, mas infelizmente tinha chovido muito naquela semana, e as cataratas estavam superrrr forte, não tivemos coragem... risos.
- Marco das três fronteiras, que tem uma lojinha muitooooo cheia dos badulaques.
- Parque das Aves (fomos de carro), lindo parque, amei a ala das borboletas.
- Usina Binacional de Itaipu, NÃO deixem de conhecer a usina, e se possível faça o passeio interno, de 02 horas, que vale a pena. No dia que fomos as comportas estavam abertas - um Show a parte.
- Jantamos no maravilhoso restaurante Rafain, com show artístico, que é consideravelmente caro por pessoa, mas pelo show e pelo bife, VALE A PENA!
Conhecemos a Argentina, fomos de carro, passamos na fronteira, e aí vai a dica.... eles não aceitam nossa CNH, e se o RG estiver com foto de criança eles também barram, por isso, ou leve o passaporte (e ganhe um carimbo...kkkk) ou atualize seu documento pessoal (RG).
Em Puerto Iguazu, na Argentina, não deixem de ir ao mercado, compre chocolates, alfajor, e a MARAVILHOSA cerveja Kilmer. No centro da cidadezinha tem uma feira de comidas tipicas, compramos pêssego em caldas, e uma azeitonas recheadas dos deuses.... eles fazem lá com recheio de palmito, alho, queijo, salame....incrivelmente delicioso.
Detalhe, o comércio fica aberto até as 21:00 hs, ou seja dá tempo de procurar bastante jaqueta de couro. Sempre ouvi dizer que a Argentina era um máximo para comprar couro, mas não achei nada de mais, e muito caro, não vale a pena.
Outra dica, tome cuidado com os pedintes, muitas crianças, se vc ficar com dó e dar coisas para eles, certamente vão aparecer com mais umas 15 crianças...cuidado com as bolsas e bolsos.
Conhecer o Parque do Iguazu, que são as cataratas do lado argentino é superrrrr legal. Achei o lado brasileiro super organizado, bonito, com uma condução de ônibus de dois andares e tal, bem mais organizado que o lado argentino.
Para ir até o Paraguai, na Cidaud del Leste, fomos de van, que o próprio hotel disponibiliza, por R$ 20,00 por pessoa, pois NÃO tem como atravessar a Ponte da Amizade de carro, é uma bagunça, motos, carros, buzinas, gente andando, me senti na Índia.
No Paraguai gostei muito de comprar perfumes, maquiagens e cremes de corpo. Mas não tivemos coragem de comprar eletrônico, pois tudo é sem garantia, e apesar do preço, não vale a pena. Um exemplo de coisas "tipicas do paraguai", comprei um purificador de ar, que ao colocar na tomada em casa, não funcionou!!!!!
A dica é: MUITOOOOOO cuidado com a bolsa, bolsos, e dinheiro, tem muita gente de olho para tapear turistas. A cidade é horrível, suja, com um transito maluco, pessoas falando alto umas com as outras, uma loucura, mas pelas compras, VALE A PENA.
Ficamos três dias em Foz do Iguaçu, foram ótimos dias.
Voltamos sentido São Paulo, mas tivemos que parar para dormir em Maringá...
lindaaaa cidade de Maringá, super urbanizada, com avenidas largas, pessoas simpáticas, achei incrível!!!
Tem uma linda catedral no meio da cidade, em formato de cone....linda! A única coisa que não gostei em Maringá é que a praia mais perto fica á seis horas de viagem... afffff... rsrsrs
Uma viagem INCRÍVEL, mas se for de carro, prepare-se, são longas horas sentado.
=)
Zara Reis
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
Um autor para ler antes de morrer
Venho deixar uma sugestão, quase que uma imposição, para pessoas que se dizem inteligentes, intelectualizadas, que curtem ou não literatura, não deixem de ler, pelo menos, uma obra de JOSÉ SARAMAGO. Minhas indicações são: Ensaio sobre a cegueira (o livro, NÃO o filme); Caim e As intermitências da morte.
As intermitências da morte é, na minha opinião, a melhor delas, narra a história da morte que se irrita com um país, com um povo faz tudo para não morrer. De castigo a morte não leva (mata) mais ninguém, mesmo a pessoa agoniando, doentes, velhas e etc, ela não leva ninguém.
Incrível como ninguém quer morrer, mas como seria a vida se não morrêssemos? E isso Saramago retratou com glamour. A primeira frase do livro é: "No dia seguinte ninguém morreu". Vale a pena a primeira página á última.
Só para refrescar, José Saramago (1922-2010) foi o único autor lusófono a receber o Prêmio Nobel de Literatura, o único até agora. Em 1995 ganhou o Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa. Autodidata, escreveu contos, livros infantis, poesia, diários, crônicas, viagens e obvio, romances - um gênio!
Experimentem!!!
Zara Reis
=)
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
Dicas de Viagem....
OKTOBERFEST
Em Outubro de 2012, eu e meu maridão, nos aventuramos em uma maratona de um final de semana para a famosa festa do chopp - OKTOBERFEST em Santa Catarina.
Saímos de São Paulo, de ônibus, ás 21:00hs de sexta-feira. Viajamos durante toda a noite, chegando em Camboriú - SC, de manhã bem cedo.
Fizemos o check-in em um hotel do centro de Camboriú, não lembro o nome, mas era beira praia.
Deixamos as malas no hotel e fomos comer uma porção de camarão com o pé na areia. Uma dica é: os quiosques NÃO vendem porções, somente comidas prontas (industrializadas), e os restaurantes beira a praia NÃO permitem que os clientes entrem de sunga, binique, e roupas afins. Frescura. Então tivemos que colocar roupa, atravessar a avenida pedir uma porção para viagem, voltar para a praia e comer. Tirando isso, VALEU A PENA, pois a praia é FANTÁSTICA!!!
Gente bonita, areia limpa, o mar delicioso.
No fim da tarde pegamos o ônibus para Vila Germânica, e de ingressos comprados, entramos.
Fiquei encantada com os palcos, as pessoas vestidas a caráter, e claro, a variedade de chopps que encontramos nas bancas. Uma dica, o chopp e comidas são vendidas via fichas, devem ser compradas em guichês, que normalmente têm filas, por isso, compre uma quantidade suficiente para você pegar fila uma unica vez.
Não deixe de tomar o chopp de vinho e o chopp escuro, que mais parece um leite, de tão amanteigado.
Outra super dica..... não volte da festa sem dançar as musiquinhas, principalmente a: "Oh frolzen, Oh frozzen..."
O ônibus saiu da Vila ás 5:00 da manhã, voltamos para o hotel, e as 9:00 hs já estávamos dentro do ônibus para voltar para São Paulo. Considerando o imenso transito da Régis, chegamos em São Paulo ás 23:30 hs.
Ufa, um final de semana e tanto, mas absurdamente cansativo.
Uma dica, este passeio vale SUPER a pena, mas se você tiver que trabalhar na segunda-feira, então vá de avião.
=)
Zara Reis
Zara Reis
Vou voltar...
Estranho pensar que tudo está para mudar
Estranho não saber para onde correr
Estranho esperar sei lá o que...
E o que esperar quando está esperando?
Espero o tempo passar
Espero as estações mudarem
Espero que tudo melhore
Espero que o ano se vá
Mesmo
Não querendo ficar longe de você
As escolhas nos fizeram mudar
Prometo que vou voltar
Pros seus braços
Seus lábios
Pra nossa vida!
Zara Reis
Estranho não saber para onde correr
Estranho esperar sei lá o que...
E o que esperar quando está esperando?
Espero o tempo passar
Espero as estações mudarem
Espero que tudo melhore
Espero que o ano se vá
Mesmo
Não querendo ficar longe de você
As escolhas nos fizeram mudar
Prometo que vou voltar
Pros seus braços
Seus lábios
Pra nossa vida!
Zara Reis
terça-feira, 12 de novembro de 2013
O grande poeta Manuel Bandeira
Em homenagem à Mario Quintana:
-
- Meu Quintana, os teus cantares
- Não são, Quintana, cantares:
- São, Quintana, quintanares.
-
- Quinta-essência de cantares…
- Insólitos, singulares…
- Cantares? Não! Quintanares!
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Em orbita
Em Órbita
Jorge Vercillo
Quero ter você pelo simples fato de ter tudo a ver,
Não dá pra disfarçar
Céu do bem-querer, tua boca linda, lua sobre o mar
Decifra-me ou te devoro!
Sabe ler meu olhar ?
Fissura é pouco, amor
Eu sinto que é mais fundo que o mar
Êxtase, frênesi
É todo meu viver
Em órbita há dias por você
Não dá pra disfarçar
Céu do bem-querer, tua boca linda, lua sobre o mar
Decifra-me ou te devoro!
Sabe ler meu olhar ?
Fissura é pouco, amor
Eu sinto que é mais fundo que o mar
Êxtase, frênesi
É todo meu viver
Em órbita há dias por você
Quero ter você
Muito mais que um dia eu sonhei querer
É só você chegar
Pra me enlouquecer,
Brilho espontâneo de oceano e mar
E um Mediterrâneo no
Azul do olhar, ah, meu Deus!
Deslumbre é pouco, amor
Eu digo que é mais fundo que o mar
Êxtase, frênesi
É o céu do meu viver
Em órbita há dias por você
Muito mais que um dia eu sonhei querer
É só você chegar
Pra me enlouquecer,
Brilho espontâneo de oceano e mar
E um Mediterrâneo no
Azul do olhar, ah, meu Deus!
Deslumbre é pouco, amor
Eu digo que é mais fundo que o mar
Êxtase, frênesi
É o céu do meu viver
Em órbita há dias por você
Sabe ler meu olhar ?
Fissura é pouco, amor
Eu sinto que é mais fundo que o mar
Êxtase, frênesi
É todo meu viver
Em órbita até pousar, em órbita até descer
Em órbita há dias por você
Fissura é pouco, amor
Eu sinto que é mais fundo que o mar
Êxtase, frênesi
É todo meu viver
Em órbita até pousar, em órbita até descer
Em órbita há dias por você
Em orbita há seis meses com vc!
Júlio como é bom te amar.
Pra sempre e para todo.
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
A procura de si mesma
O conto da ilha desconhecida
José Saramago
Um homem foi bater à porta do rei e disse-lhe, Dá-me um barco. A casa do rei tinha muitas mais portas, mas aquela era a das petições. Como o rei passava todo o tempo sentado à porta dos obséquios (entenda-se, os obséquios que lhe faziam a ele), de cada vez que ouvia alguém a chamar à porta das petições fingia-se desentendido, e só quando o ressoar contínuo da aldraba de bronze se tornava, mais do que notório, escandaloso, tirando o sossego à vizinhança (as pessoas começavam a murmurar, Que rei temos nós, que não atende), é que dava ordem ao primeiro-secretário para ir saber o que queria o impetrante, que não havia maneira de se calar. Então, o primeiro-secretário chamava o segundo-secretário, este chamava o terceiro, que mandava o primeiro-ajudante, que por sua vez mandava o segundo, e assim por aí fora até chegar à mulher da limpeza, a qual, não tendo ninguém em quem mandar, entreabria a porta das petições e perguntava pela frincha, Que é que tu queres. O suplicante dizia ao que vinha, isto é, pedia o que tinha a pedir, depois instalava-se a um canto da porta, à espera de que o requerimento fizesse, de um em um, o caminho ao contrário, até chegar ao rei. Ocupado como sempre estava com os obséquios, o rei demorava a resposta, e já não era pequeno sinal de atenção ao bem-estar e felicidade do seu povo quando resolvia pedir um parecer fundamentado por escrito ao primeiro-secretário, o qual, escusado se ria dizer, passava a encomenda ao segundo-secretário, este ao terceiro, sucessivamente, até chegar outra vez à mulher da limpeza, que despachava sim ou não conforme estivesse de maré.
Contudo, no caso do homem que queria um barco, as coisas não se passaram bem assim. Quando a mulher da limpeza lhe perguntou pela nesga da porta, Que é que tu queres, o homem, em lugar de pedir, como era o costume de todos, um título, uma condecoração, ou simplesmente dinheiro, respondeu, Quero falar ao rei, Já sabes que o rei não pode vir, está na porta dos obséquios, respondeu a mulher, Pois então vai lá dizer-lhe que não saio daqui até que ele venha, pessoalmente, saber o que quero, rematou o homem, e deitou-se ao comprido no limiar, tapando-se com a manta por causa do frio. Entrar e sair, só por cima dele. Ora, isto era um enorme problema, se tivermos em consideração que, de acordo com a pragmática das portas, ali só se podia atender um suplicante de cada vez, donde resultava que, enquanto houvesse alguém à espera de resposta, nenhuma outra pessoa se poderia aproximar a fim de expor as suas necessidades ou as suas ambições. À primeira vista, quem ficava a ganhar com este artigo do regulamento era o rei, dado que, sendo menos numerosa a gente que o vinha incomodar com lamúrias, mais tempo ele passava a ter, e mais descanso, para receber, contemplar e guardar os obséquios. À segunda vista, porém, o rei perdia, e muito, porque os protestos públicos, ao notar-se que a resposta estava a tardar mais do que o justo, faziam aumentar gravemente o descontentamento social, o que, por seu turno, ia ter imediatas e negativas consequências no afluxo de obséquios. No caso que estamos narrando, o resultado da ponderação entre os benefícios e os prejuízos foi ter ido o rei, ao cabo de três dias, e em real pessoa, à porta das petições, para saber o que queria o intrometido que se havia negado a encaminhar o requerimento pelas competentes vias burocráticas. Abre a porta, disse o rei à mulher da limpeza, e ela perguntou, Toda, ou só um bocadinho. O rei duvidou por um instante, na verdade não gostava muito de se expor aos ares da rua, mas depois reflexionou que pareceria mal, além de ser indigno da sua majestade, falar com um súdito através de uma nesga, como se tivesse medo dele, mormente estando a assistir ao colóquio a mulher da limpeza, que logo iria dizer por aí sabe Deus o quê, De par em par, ordenou. O homem que queria um barco levantou-se do degrau da porta quando começou a ouvir correr os ferrolhos, enrolou a manta e pôs-se à espera. Estes sinais de que finalmente alguém vinha atender, e que portanto a praça não tardaria a ficar desocupada, fizeram aproximar-se da porta uns quantos aspirantes à liberalidade do trono que por ali andavam, prontos a assaltar o lugar mal ele vagasse. O inopinado aparecimento do rei (nunca uma tal coisa havia sucedido desde que ele andava de coroa na cabeça) causou uma surpresa desmedida, não só aos ditos candidatos mas também à vizinhança que, atraída pelo repentino alvoroço, assomara às janelas das casas, no outro lado da rua. A única pessoa que não se surpreendeu por aí além foi o homem que tinha vindo pedir um barco. Calculara ele, e acertara na previsão, que o rei, mesmo que demorasse três dias, haveria de sentir-se curioso de ver a cara de quem, sem mais nem menos, com notável atrevimento, o mandara chamar. Repartido pois entre a curiosidade que não pudera reprimir e o desagrado de ver tanta gente junta, o rei, com o pior dos modos, perguntou três perguntas seguidas, Que é que queres, Por que foi que não disseste logo o que querias, Pensarás tu que eu não tenho mais nada que fazer, mas o homem só respondeu à primeira pergunta, Dá-me um barco, disse. O assombro deixou o rei a tal ponto desconcertado, que a mulher da limpeza se apressou a chegar-lhe uma cadeira de palhinha, a mesma em que ela própria se sentava quando precisava de trabalhar de linha e agulha, pois, além da limpeza, tinha também à sua responsabilidade alguns, trabalhos menores de costura no palácio como passajar as peúgas dos pajens. Mal sentado, porque a cadeira de palhinha era muito mais baixa que o trono, o rei estava a procurar a melhor maneira de acomodar as pernas, ora encolhendo-as ora estendendo-as para os lados, enquanto o homem que queria um barco esperava com paciência a pergunta que se seguiria, E tu para que queres um barco, pode-se saber, foi o que o rei de facto perguntou quando finalmente se deu por instalado, com sofrível comodidade, na cadeira da mulher da limpeza, Para ir à procura da ilha desconhecida, respondeu o homem, Que ilha desconhecida, perguntou o rei disfarçando o riso, como se tivesse na sua frente um louco varrido, dos que têm a mania das navegações, a quem não seria bom contrariar logo de entrada, A ilha desconhecida, repetiu o homem, Disparate, já não há ilhas desconhecidas, Quem foi que te disse, rei, que já não há ilhas desconhecidas, Estão todas nos mapas, Nos mapas só estão as ilhas conhecidas, E que ilha desconhecida é essa de que queres ir à procura, Se eu to pudesse dizer, então não seria desconhecida, A quem ouviste tu falar dela, perguntou o rei, agora mais sério, A ninguém, Nesse caso, por que teimas em dizer que ela existe, Simplesmente porque é impossível que não exista uma ilha desconhecida, E vieste aqui para me pedires um barco, Sim, vim aqui para pedir-te um barco, E tu quem és, para que eu to dê, E tu quem és, para que não mo dês, Sou o rei deste reino, e os barcos do reino pertencem-me todos, Mais lhes pertencerás tu a eles do que eles a ti, Que queres dizer, perguntou o rei, inquieto, Que tu, sem eles, és nada, e que eles, sem ti, poderão sempre navegar, Às minhas ordens, com os meus pilotos e os meus marinheiros, Não te peço marinheiros nem piloto, só te peço um barco, E essa ilha desconhecida, se a encontrares, será para mim, A ti, rei, só te interessam as ilhas conhecidas, Também me interessam as desconhecidas quando deixam de o ser, Talvez esta não se deixe conhecer, Então não te dou o barco, Darás. Ao ouvirem esta palavra, pronunciada com tranquila firmeza, os aspirantes à porta das petições, em quem, minuto após minuto, desde o princípio da conversa, a impaciência vinha crescendo, e mais para se verem livres dele do que por simpatia solidária, resolveram intervir a favor do homem que queria o barco, começando a gritar, Dá-lhe o barco, dá-lhe o barco. O rei abriu a boca para dizer à mulher da limpeza que chamasse a guarda do palácio a vir restabelecer imediatamente a ordem pública e impor a disciplina, mas, nesse momento, as vizinhas que assistiam das janelas juntaram-se ao coro com entusiasmo, gritando como os outros, Dá-lhe o barco, dá-lhe o barco. Perante uma tão iniludível manifestação da vontade popular e preocupado com o que, neste meio tempo, já haveria perdido na porta dos obséquios, o rei levantou a mão direita a impor silêncio e disse, Vou dar-te um barco, mas a tripulação terás de arranjá-la tu, os meus marinheiros são-me precisos para as ilhas conhecidas. Os gritos de aplauso do público não deixaram que se percebesse o agradecimento do homem que viera pedir um barco, aliás o movimento dos lábios tanto teria podido ser Obrigado, meu senhor, como Eu cá me arranjarei, mas o que distintamente se ouviu foi o dito seguinte do rei, Vais à doca, perguntas lá pelo capitão do porto, dizes-lhe que te mandei eu, e ele que te dê o barco, levas o meu cartão. O homem que ia receber um barco leu o cartão de visita, onde dizia Rei por baixo do nome do rei, e eram estas as palavras que ele havia escrito sobre o ombro da mulher da limpeza, Entrega ao portador um barco, não precisa ser grande, mas que navegue bem e seja seguro, não quero ter remorsos na consciência se as coisas lhe correrem mal. Quando o homem levantou a cabeça, supõe-se que desta vez é que iria agradecer a dádiva, já o rei se tinha retirado, só estava a mulher da limpeza a olhar para ele com cara de caso. O homem desceu do degrau da porta, sinal de que os outros candidatos podiam enfim avançar, nem valeria a pena explicar que a confusão foi indescritível, todos a quererem chegar ao sítio em primeiro lugar, mas com tão má sorte que a porta já estava fechada outra vez. A aldraba de bronze tornou a chamar a mulher da limpeza, mas a mulher da limpeza não está, deu a volta e saiu com o balde e a vassoura por outra porta, a das decisões, que é raro ser usada, mas quando o é, é. Agora sim, agora pode-se compreender o porquê da cara de caso com que a mulher da limpeza havia estado a olhar, foi esse o preciso momento em que ela resolveu ir atrás do homem quando ele se dirigisse ao porto a tomar conta do barco. Pensou ela que já bastava de uma vida a limpar e a lavar palácios, que tinha chegado a hora de mudar de ofício, que lavar e limpar barcos é que era a sua vocação verdadeira, no mar, ao menos, a água nunca lhe faltaria. O homem nem sonha que, não tendo ainda sequer começado a recrutar os tripulantes, já leva atrás de si a futura encarregada das baldeações e outros asseios, também é deste modo que o destino costuma comportar-se connosco, já está mesmo atrás de nós, já estendeu a mão para tocar-nos o ombro, e nós ainda vamos a murmurar, Acabou-se, não há mais que ver, é tudo igual.
Andando, andando, o homem chegou ao porto, foi à doca, perguntou pelo capitão, e enquanto ele não chegava deitou-se a adivinhar qual seria, de quantos barcos ali estavam, o que iria ser o seu, grande já se sabia que não, o cartão de visita do rei era muito claro neste ponto, por conseguinte ficavam de fora os paquetes, os cargueiros e os navios de guerra, tão-pouco poderia ser ele tão pequeno que resistisse mal às forças do vento e aos rigores do mar, o rei também havia sido categórico neste ponto, Que navegue bem e seja seguro, foram estas as suas formais palavras, assim implicitamente excluindo os botes, as faluas e os escaleres, os quais, sendo bons navegantes, e seguros, conforme a condição de cada qual, não tinham nascido para sulcar os oceanos, que é onde se encontram as ilhas desconhecidas. Um pouco afastada dali, escondida por trás de uns bidões, a mulher da limpeza correu os olhos pelos barcos atracados, Para o meu gosto, aquele, pensou, porém a sua opinião não contava, nem sequer havia sido ainda contratada, vamos ouvir antes o que dirá o capitão do porto. O capitão veio, leu o cartão, mirou o homem de alto a baixo, e fez a pergunta que o rei se tinha esquecido de fazer, Sabes navegar, tens carta de navegação, ao que o homem respondeu, Aprenderei no mar. O capitão disse, Não to aconselharia, capitão sou eu, e não me atrevo com qualquer barco, Dá-me então um com que possa atrever-me eu, não, um desses não, dá-me antes um barco que eu respeite e que possa respeitar-me a mim, Essa linguagem é de marinheiro, mas tu não és marinheiro, Se tenho a linguagem, é como se o fosse. O capitão tornou a ler o cartão do rei, depois perguntou, Poderás dizer-me para que queres o barco, Para ir à procura da ilha desconhecida, Já não há ilhas desconhecidas, O mesmo me disse o rei, O que ele sabe de ilhas, aprendeu-o comigo, É estranho que tu, sendo homem do mar, me digas isso, que já não há ilhas desconhecidas, homem da terra sou eu, e não ignoro que todas as ilhas, mesmo as conhecidas, são desconhecidas enquanto não desembarcarmos nelas, Mas tu, se bem entendi, vais à procura de uma onde nunca ninguém tenha desembarcado, Sabê-lo-ei quando lá chegar, Se chegares, Sim, às vezes naufraga-se pelo caminho, mas, se tal me viesse a acontecer, deverias escrever nos anais do porto que o ponto a que cheguei foi esse, Queres dizer que chegar, sempre se chega, Não serias quem és se não o soubesses já. O capitão do porto disse, Vou dar-te a embarcação que te convém, Qual é ela, É um barco com muita experiência, ainda do tempo em que toda a gente andava à procura de ilhas desconhecidas, Qual é ele, Julgo até que encontrou algumas, Qual, Aquele. Assim que a mulher da limpeza percebeu para onde o capitão apontava, saiu a correr de detrás dos bidões e gritou, É o meu barco, é o meu barco, há que perdoar-lhe a insólita reivindicação de propriedade, a todos os títulos abusiva, o barco era aquele de que ela tinha gostado, simplesmente. Parece uma caravela, disse o homem, Mais ou menos, concordou o capitão, no princípio era uma caravela, depois passou por arranjos e adaptações que a modificaram um bocado, Mas continua a ser uma caravela, Sim, no conjunto conserva o antigo ar, E tem mastros e velas, Quando se vai procurar ilhas desconhecidas, é o mais recomendável. A mulher da limpeza não se conteve, Para mim não quero outro, Quem és tu, perguntou o homem, Não te lembras de mim, Não tenho idéia, Sou a mulher da limpeza, Qual limpeza, A do palácio do rei, A que abria a porta das petições, Não havia outra, E por que não estás tu no palácio do rei a limpar e a abrir portas, Porque as portas que eu realmente queria já foram abertas e porque de hoje em diante só limparei barcos, Então estás decidida a ir comigo procurar a ilha desconhecida, Saí do palácio pela porta das decisões, Sendo assim, vai para a caravela, vê como está aquilo, depois do tempo que passou deve precisar de uma boa lavagem, e tem cuidado com as gaivotas, que não são de fiar, Não queres vir comigo conhecer o teu barco por dentro, Tu disseste que era teu, Desculpa, foi só porque gostei dele, Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar. O capitão do porto interrompeu a conversa, Tenho de entregar as chaves ao dono do barco, a um ou a outro, resolvam-se, a mim tanto se me dá, Os barcos têm chave, perguntou o homem, Para entrar, não, mas lá estão as arrecadações e os paióis, e a escrivaninha do comandante com o diário de bordo, Ela que se encarregue de tudo, eu vou recrutar a tripulação, disse o homem, e afastou-se.
A mulher da limpeza foi ao escritório do capitão para recolher as chaves, depois entrou no barco, duas coisas lhe valeram aí, a vassoura do palácio e a prevenção contra as gaivotas, ainda não tinha acabado de atravessar a prancha que ligava a amurada ao cais e já as malvadas estavam a precipitar-se sobre ela aos guinchos, furiosas, de goela aberta, como se ali mesmo a quisessem devorar. Não sabiam com quem se metiam. A mulher da limpeza pousou o balde, meteu as chaves no seio, firmou bem os pés na prancha, e, redemoinhando a vassoura como se fosse um espadão dos tempos antigos, fez debandar o bando assassino. Foi só quando entrou no barco que compreendeu a ira das gaivotas, havia ninhos por toda a parte, muitos deles abandonados, outros ainda com ovos, e uns poucos com gaivotinhos de bico aberto, à espera da comida, Pois sim, mas o melhor é mudarem-se daqui, um barco que vai procurar a ilha desconhecida não pode ter este aspecto, como se fosse um galinheiro, disse. Atirou para a água os ninhos vazios, quanto aos outros deixou-os ficar, até ver. Depois arregaçou as mangas e pôs-se a lavar a coberta. Quando acabou a dura tarefa, foi abrir o paiol das velas e procedeu a um exame minucioso do estado das costuras, depois de tanto tempo sem irem ao mar e sem terem de suportar os esticões saudáveis do vento. As velas são os músculos do barco, basta ver como incham quando se esforçam, mas, e isso mesmo sucede aos músculos, se não se lhes dá uso regularmente, abrandam, amolecem, perdem nervo, E as costuras são como os nervos das velas, pensou a mulher da limpeza, contente por estar a aprender tão depressa a arte de marinharia. Achou esgarçadas algumas bainhas, mas contentou-se com assinalá-las, uma vez que para este trabalho não podiam servir a linha e a agulha com que passajava as peúgas dos pajens antigamente, quer dizer, ainda ontem. Quanto aos outros paióis, viu logo que estavam vazios. Que o da pólvora estivesse desmunido, salvo uns pozinhos negros no fundo, que primeiro mais lhe pareceram caganitas de rato, não lhe importou nada, de facto não está escrito em nenhuma lei, pelo menos até onde a sabedoria duma mulher da limpeza é capaz de alcançar, que ir em busca duma ilha desconhecida tenha de ser forçosamente uma empresa de guerra. Já a ralou, e muito, a falta absoluta de munições de boca no paiol respectivo, não por si própria, que estava mais do que acostumada ao mau passadio do palácio, mas por causa do homem a quem deram este barco, não tarda que o sol se ponha, e ele a aparecer-me aí a clamar que tem fome, que é o dito de todos os homens mal entram em casa, como se só eles é que tivessem estômago e sofressem da necessidade de o encher, E se já traz marinheiros para a tripulação, que são uns ogres a comer, então é que não sei como nos iremos governar, disse a mulher da limpeza.
Não valia a pena ter-se preocupado tanto. O sol havia acabado de sumir-se no oceano quando o homem que tinha um barco surgiu no extremo do cais. Trazia um embrulho na mão, porém vinha sozinho e cabisbaixo. A mulher da limpeza foi esperá-lo à prancha, mas antes que ela abrisse a boca para se inteirar de como lhe tinha corrido o resto do dia, ele disse, Está descansada, trago aqui comida para os dois, E os marinheiros, perguntou ela, Não veio nenhum, como podes ver, Mas deixaste-os apalavrados, ao menos, tornou ela a perguntar, Disseram-me que já não há ilhas desconhecidas, e que, mesmo que as houvesse, não iriam eles tirar-se do sossego dos seus lares e da boa vida dos barcos de carreira para se meterem em aventuras oceânicas, à procura de um impossível, como se ainda estivéssemos no tempo do mar tenebroso, E tu, que lhes respondeste, Que o mar é sempre tenebroso, E não lhes falaste da ilha desconhecida, Como poderia falar-lhes eu duma ilha desconhecida, se não a conheço, Mas tens a certeza de que ela existe, Tanta como a de ser tenebroso o mar, Neste momento, visto daqui, com aquela água cor de jade e o céu como um incêndio, de tenebroso não lhe encontro nada, É uma ilusão tua, também as ilhas às vezes parece que flutuam sobre as águas, e não é verdade, Que pensas fazer, se te falta a tripulação, Ainda não sei, Podíamos ficar a viver aqui, eu oferecia-me para lavar os barcos que vêm à doca, e tu, E eu, Tens com certeza um mester, um ofício, uma profissão, como agora se diz, Tenho, tive, terei se for preciso, mas quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou eu quando nela estiver, Não o sabes, Se não sais de ti, não chegas a saber quem és, O filósofo do rei, quando não tinha que fazer, ia sentar-se ao pé de mim, a ver-me passajar as peúgas dos pajens, e às vezes dava-lhe para filosofar, dizia que todo o homem é uma ilha, eu, como aquilo não era comigo, visto que sou mulher, não lhe dava importância, tu que achas, Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós, Se não saímos de nós próprios, queres tu dizer, Não é a mesma coisa. O incêndio do céu ia esmorecendo, a água arroxeou-se de repente, agora nem a mulher da limpeza duvidaria de que o mar é mesmo tenebroso, pelo menos a certas horas. Disse o homem, Deixemos as filosofias para o filósofo do rei, que para isso é que lhe pagam, agora vamos nós comer, mas a mulher não esteve de acordo, Primeiro, tens de ver o teu barco, só o conheces por fora, Que tal o encontraste, Há algumas bainhas das velas que estão a precisar de reforço, Desceste ao porão, encontraste água aberta, No fundo vê-se alguma, de mistura com o lastro, mas isso parece que é próprio, faz bem ao barco, Como foi que aprendeste essas coisas, Assim, Assim como, Como tu, quando disseste ao capitão do porto que aprenderias a navegar no mar, Ainda não estamos no mar, Mas já estamos na água, Sempre tive a idéia de que para a navegação só há dois mestres verdadeiros, um que é o mar, o outro que é o barco, E o céu, estás a esquecer-te do céu, Sim, claro, o céu, Os ventos, As nuvens, O céu, Sim, o céu.
Em menos de um quarto de hora tinham acabado a volta pelo barco, uma caravela, mesmo transformada, não dá para grandes passeios. É bonita, disse o homem, mas se eu não conseguir arranjar tripulantes suficientes para a manobra, terei de ir dizer ao rei que já não a quero, Perdes o ânimo logo à primeira contrariedade, A primeira contrariedade foi estar à espera do rei três dias, e não desisti, Se não encontrares marinheiros que queiram vir, cá nos arranjaremos os dois, Estás doida, duas pessoas sozinhas não seriam capazes de governar um barco destes, eu teria de estar sempre ao leme, e tu, nem vale a pena estar a explicar-te, é uma loucura, Depois veremos, agora vamos mas é comer. Subiram para o castelo de popa, o homem ainda a protestar contra o que chamara loucura, e, ali, a mulher da limpeza abriu o farnel que ele tinha trazido, um pão, queijo duro, de cabra, azeitonas, uma garrafa de vinho. A lua já estava meio palmo sobre o mar, as sombras da verga e do mastro grande vieram deitar-se-lhes aos pés. É realmente bonita a nossa caravela, disse a mulher, e emendou logo, A tua, a tua caravela, Desconfio que não o será por muito tempo, Navegues ou não navegues com ela, é tua, deu-ta o rei, Pedi-lha para ir procurar uma ilha desconhecida, Mas estas coisas não se fazem do pé para a mão, levam o seu tempo, já o meu avô dizia que quem vai ao mar avia-se em terra, e mais não era ele marinheiro, Sem tripulantes não poderemos navegar, Já o tinhas dito, E há que abastecer o barco das mil coisas necessárias a uma viagem como esta, que não se sabe aonde nos levará, Evidentemente, e depois teremos de esperar que seja a boa estação, e sair com a boa maré, e vir gente ao cais a desejar-nos boa viagem, Estás a rir-te de mim, Nunca me riria de quem me fez sair pela porta das decisões, Desculpa-me, E não tornarei a passar por ela, suceda o que suceder. O luar iluminava em cheio a cara da mulher da limpeza, É bonita, realmente é bonita, pensou o homem, que desta vez não estava a referir-se à caravela. A mulher, essa, não pensou nada, devia ter pensado tudo durante aqueles três dias, quando entreabria de vez em quando a porta para ver se aquele ainda continuava lá fora, à espera. Não sobrou migalha de pão ou de queijo, nem gota de vinho, os caroços das azeitonas foram atirados para a água, o chão está tão limpo como ficara quando a mulher da limpeza lhe passou por cima o último esfregão. A sereia de um paquete que saía para o mar soltou um ronco potente, como deviam ter sido os do leviatã, e a mulher disse, Quando for a nossa vez faremos menos barulho. Apesar de estarem no interior da doca, a água ondulou um pouco à passagem do paquete, e o homem disse, Mas baloiçaremos muito mais. Riram os dois, depois ficaram calados, passado um bocado um deles opinou que o melhor seria irem dormir, Não é que eu tenha muito sono, e o outro concordou, Nem eu, depois calaram-se outra vez, a lua subiu e continuou a subir, em certa altura a mulher disse, Há beliches lá em baixo, o homem disse, Sim, e foi então que se levantaram, que desceram à coberta, aí a mulher disse, Até amanhã, eu vou para este lado, e o homem respondeu, E eu vou para este, até amanhã, não disseram bombordo nem estibordo, decerto por estarem ainda a praticar na arte. A mulher voltou atrás, Tinha-me esquecido, tirou do bolso do avental dois cotos de vela, Encontrei-os quando andava a limpar, o que não tenho é fósforos, Eu tenho, disse o homem. Ela segurou as velas, uma em cada mão, ele acendeu um fósforo, depois, abrigando a chama sob a cúpula dos dedos curvados, levou-a com todo o cuidado aos velhos pavios, a luz pegou, cresceu lentamente como faz o luar, banhou a cara da mulher da limpeza, nem seria preciso dizer o que ele pensou, É bonita, mas o que ela pensou, sim, Vê-se bem que só tem olhos para a ilha desconhecida, aqui está como as pessoas se enganam nos sentidos do olhar, sobretudo ao princípio. Ela entregou-lhe uma vela, disse, Até amanhã, dorme bem, ele quis dizer o mesmo doutra maneira, Que tenhas sonhos felizes, foi a frase que lhe saiu, daqui a pouco, quando lá estiver em baixo, deitado no seu beliche, vir-lhe-ão à ideia outras frases, mais espirituosas, sobretudo mais insinuantes, como se espera que sejam as de um homem quando está a sós com uma mulher. Perguntava-se se já dormiria, se teria tardado a entrar no sono, depois imaginou que andava à procura dela e não a encontrava em nenhum sítio, que estavam perdidos os dois num barco enorme, o sonho é um prestidigitador hábil, muda as proporções das coisas e as suas distâncias, separa ás pessoas, e elas estão juntas, reúne-as, e quase não se vêem uma à outra, a mulher dorme a poucos metros e ele não soube como alcançá-la, quando é tão fácil ir de bombordo a estibordo.
Tinha-lhe desejado felizes sonhos, mas foi ele quem levou toda a noite a sonhar. Sonhou que a sua caravela ia no mar alto, com as três velas triangulares gloriosamente enfunadas, abrindo caminho sobre as ondas, enquanto ele manejava a roda do leme e a tripulação descansava à sombra. Não percebia como podiam ali estar os marinheiros que no porto e na cidade se tinham recusado a embarcar com ele para ir à procura da ilha desconhecida, provavelmente arrependeram-se da grosseira ironia com que o haviam tratado. Via animais espalhados pela coberta, patos, coelhos, galinhas, o habitual da criação doméstica, debicando os grãos de milho ou roendo as folhas de couve que um marinheiro lhes atirava, não se lembrava de quando os tinha trazido para o barco, fosse como fosse era natural que ali estivessem, imaginemos que a ilha desconhecida é, como tantas vezes o foi no passado, uma ilha deserta, o melhor será jogar pelo seguro, todos sabemos que abrir a porta da coelheira e agarrar um coelho pelas orelhas sempre foi mais fácil do que persegui-lo por montes e vales. Do fundo do porão veio agora um coro de relinchos de cavalos, de mugidos de bois, de zurros de asnos, as vozes dos nobres animais necessários para o trabalho pesado, e como foi que vieram eles, como podem estar numa caravela onde a tripulação humana mal cabe, de súbito o vento deu uma guinada, a vela maior bateu e ondulou, por trás dela estava o que antes não se vira, um grupo de mulheres que mesmo sem as contar se adivinha serem tantas quantos os marinheiros, ocupam-se nas suas coisas de mulheres, ainda não chegou o tempo de se ocuparem doutras, está claro que isto só pode ser um sonho, na vida real nunca se viajou assim. O homem do leme buscou com os olhos a mulher da limpeza e não a viu, Talvez esteja no beliche de estibordo, a descansar da lavagem da coberta, pensou, mas foi um pensar fingido, porque ele bem sabe, embora também não saiba como o sabe, que ela à última hora não quis vir, que saltou para o cais, dizendo de lá, Adeus, adeus, já que só tens olhos para a ilha desconhecida, vou-me embora, e não era verdade, agora mesmo andam os olhos dele a procurá-la e não a encontram. Neste momento o céu cobriu-se e começou a chover, e, tendo chovido, principiaram a brotar inúmeras plantas das fileiras de sacos de terra alinhadas ao longo da amurada, não estão ali porque se suspeite que não haja terra bastante na ilha desconhecida, mas porque assim se ganhará tempo, no dia em que lá chegarmos só teremos que transplantar as árvores de fruto, semear os grãos das pequenas searas que vão amadurecer aqui, enfeitar os canteiros com as flores que desabrocharão destes botões. O homem do leme pergunta aos marinheiros que descansam na coberta se avistam alguma ilha desabitada, e eles respondem que não vêem nem de umas nem das outras, mas que estão a pensar em desembarcar na primeira terra povoada que lhes apareça, desde que haja lá um porto onde fundear, uma taberna onde beber e uma cama onde folgar, que aqui não se pode, com toda esta gente junta. E a ilha desconhecida, perguntou o homem do leme, A ilha desconhecida é coisa que não existe, não passa duma ideia da tua cabeça, os geógrafos do rei foram ver nos mapas e declararam que ilhas por conhecer é coisa que se acabou desde há muito tempo, Devíeis ter ficado na cidade, em lugar de vir atrapalhar-me a navegação, Andávamos à procura de um sítio melhor para viver e resolvemos aproveitar a tua viagem, Não sois marinheiros, Nunca o fomos, Sozinho, não serei capaz de governar o barco, Pensasses nisso antes de ir pedi-lo ao rei, o mar não ensina a navegar. Então o homem do leme viu uma terra ao longe e quis passar adiante, fazer de conta que ela era a miragem de uma outra terra, uma imagem que tivesse vindo do outro lado do mundo pelo espaço, mas os homens que nunca haviam sido marinheiros protestaram, disseram que ali mesmo é que queriam desembarcar, Esta é uma ilha do mapa, gritaram, matar-te-emos se não nos levares lá. Então, por si mesma, a caravela virou a proa em direcção à terra, entrou no porto e foi encostar à muralha da doca, Podeis ir-vos, disse o homem do leme, acto contínuo saíram em correnteza, primeiro as mulheres, depois os homens, mas não foram sozinhos, levaram com eles os patos, os coelhos e as galinhas, levaram os bois, os burros e os cavalos, e até as gaivotas, uma após outra, levantaram voo e se foram do barco transportando no bico os seus gaivotinhos, proeza que não tinha sido cometida antes, mas há sempre uma vez. O homem do leme assistiu à debandada em silêncio, não fez nada para reter os que o abandonavam, ao menos tinham-no deixado com as árvores, os trigos e as flores, com as trepadeiras que se enrolavam nos mastros e pendiam da amurada como festões. Por causa do atropelo da saída haviam-se rompido e derramado os sacos de terra, de modo que a coberta era toda ela como um campo lavrado e semeado, só falta que venha um pouco mais de chuva para que seja um bom ano agrícola. Desde que a viagem à ilha desconhecida começou que não se vê o homem do leme comer, deve ser porque está a sonhar, apenas a sonhar, e se no sonho lhe apetecesse um pedaço de pão ou uma maçã, seria um puro invento, nada mais. As raízes das árvores já estão penetrando no cavername, não tarda que estas velas içadas deixem de ser precisas, bastará que o vento sopre nas copas e vá encaminhando a caravela ao seu destino. É uma floresta que navega e se balanceia sobre as ondas, uma floresta onde, sem saber-se como, começaram a cantar pássaros, deviam estar escondidos por aí e de repente decidiram sair à luz, talvez porque a seara já esteja madura e é preciso ceifá-la. Então o homem trancou a roda do leme e desceu ao campo com a foice na mão, e foi quando tinha cortado as primeiras espigas que viu uma sombra ao lado da sua sombra. Acordou abraçado à mulher da limpeza, e ela a ele, confundidos os corpos, confundidos os beliches, que não se sabe se este é o de bombordo ou o de estibordo. Depois, mal o sol acabou de nascer, o homem e a mulher foram pintar na proa do barco, de um lado e do outro, em letras brancas, o nome que ainda faltava dar à caravela. Pela hora do meio-dia, com a maré, A Ilha Desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma.
José Saramago nasceu em 1922 na aldeia de Azinhaga (Golegã). Fez estudos secundários que, por dificuldades econômicas, não pôde prosseguir. Seu primeiro emprego foi o de serralheiro mecânico, tendo exercido depois, diversas outras profissões: desenhista, funcionário de saúde e de previdência social, editor, tradutor, jornalista.
Publicou o seu primeiro livro, um romance, em 1947. Colaborou como crítico literário na revista "Seara Nova". Em 1972 e 1973 fez parte da redação do jornal "Diário de Lisboa". Pertenceu à primeira direção da Associação Portuguesa de Escritores e foi, desde 1985 a 1994, presidente da Assembléia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores. Entre Abril e Novembro de 1975 foi diretor-adjunto do jornal "Diário de Notícias". A partir de 1976 passou a viver exclusivamente do seu trabalho literário, primeiro como tradutor, depois como autor.
É Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Turim (Itália), de Sevilha (Espanha) e de Manchester (Reino Unido); membro Honoris Causa do Conselho do Instituto de Filosofia do Direito e de Estudos Histórico-Políticos da Universidade de Pisa (Itália); membro da Academia Universal das Culturas (Paris); membro correspondente da Academia Argentina das Letras; membro do Parlamento Internacional de Escritores (Estrasburgo).
José Saramago foi laureado com o Prêmio Nobel da Literatura 1998 pela The Nobel Foundation.
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
CASTELO BRANCO....
"Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada
de luz.
Mas casa, pra mim, tem que
ser casa e não centro cirúrgico, um cenário de novela. Tem gente que gasta
muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as
almofadas... Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo
logo: Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é
aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de
lugar. Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas,
que chamam todo mundo pra mesa da cozinha. Sofá sem mancha? Tapete sem fio
puxado? Mesa sem marca de copo? Tá na cara que é casa sem festa. E se o piso
não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem
banheiro com vapor perfumado no meio da tarde. Tem gaveta de entulho, daquelas
que a gente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em
que a gente entra e se sente bem-vinda. A que está sempre pronta pros amigos,
filhos... Netos, pros vizinhos... E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados
por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.
Arrume a casa todos os
dias... Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo para viver nela... E
reconhecer nela o seu lugar."
Texto "CASA ARRUMADA" [Carlos Drummond de Andrade]
terça-feira, 8 de outubro de 2013
AMOR
"Misture amizade, ternura, paixão,
tara, confidência, respeito,
admiração e dependência,
e vc está ferrado:
o resultado disso é amor."
TCC _ parte 04 (muito belo!!!!)
BODA ESPIRITUAL
Tu não estás comigo em momentos escassos:
No pensamento meu, amor, tu vives nua
— Toda nua, pudica e bela, nos meus braços.
O teu ombro no meu, ávido, se insinua.
Pende a tua cabeça. Eu amacio-a... Afago-a...
Ah, como a minha mão treme... Como ela é tua...
Põe no teu rosto o gozo uma expressão de mágoa.
O teu corpo crispado alucina. De escorço
O vejo estremecer como uma sombra nágua.
Gemes quase a chorar. Suplicas com esforço.
E para amortecer teu ardente desejo
Estendo longamente a mão pelo teu dorso...
Tua boca sem voz implora em um arquejo.
Eu te estreito cada vez mais, e espio absorto
A maravilha astral dessa nudez sem pejo...
E te amo como se ama um passarinho morto.
No pensamento meu, amor, tu vives nua
— Toda nua, pudica e bela, nos meus braços.
O teu ombro no meu, ávido, se insinua.
Pende a tua cabeça. Eu amacio-a... Afago-a...
Ah, como a minha mão treme... Como ela é tua...
Põe no teu rosto o gozo uma expressão de mágoa.
O teu corpo crispado alucina. De escorço
O vejo estremecer como uma sombra nágua.
Gemes quase a chorar. Suplicas com esforço.
E para amortecer teu ardente desejo
Estendo longamente a mão pelo teu dorso...
Tua boca sem voz implora em um arquejo.
Eu te estreito cada vez mais, e espio absorto
A maravilha astral dessa nudez sem pejo...
E te amo como se ama um passarinho morto.
© MANUEL BANDEIRA
In A cinza das horas, 1917
In A cinza das horas, 1917
Sem você - Los Hermanos
“Sei que a tua boca já beijou a outra que não a minha.
Sei que já amou a outros quando não me conhecia.
Mesmo assim, teu carinho me tomou o peito,
e hoje sem você não mais consigo ser do mesmo jeito.”
Coragem de ser feliz - Luis Fernando Verissimo
Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor,
sentir o nada, mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas,
os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma,
apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas,
nem que todas as estrelas estejam ao alcance,
para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória
é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão;
pros fracassos, chance;
pros amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
terça-feira, 17 de setembro de 2013
Incrivelmente lindo
Sinto decepcionar-lhe, mas não sou o mais sábio, tampouco o mais experiente. Gostaria de ter tanto mais para ensinar-lhe, mas, assim como todas as demais pessoas, sou limitado e imperfeito. E está tudo bem, pois isto é inevitável.
É inevitável que não saibamos, que tenhamos incertezas, que sejamos em vários momentos oprimidos pelas dúvidas e pelo medo.
Por isto, eu lhe digo: não tenha pressa.
Tudo se resolverá com o tempo, e, se não se resolver, é porque não tinha solução mesmo.
Se eu tivesse de lhe deixar um único legado, seria este conselho: não tenha pressa. Pois a vida é curta demais, frágil demais, insignificante demais. Hoje, está. Amanhã, não mais. Todos passamos e todos passarão, mas o tempo permanecerá seguindo adiante mesmo que não haja mais ninguém para computar os dias, meses e anos.
Não tenha pressa.
Viva cada instante e vivencie-os. É muito fácil ignorarmos as pequenas belezas cotidianas, enquanto miramos sonhos vindouros. O futuro está no futuro. Jamais chegará. É no presente onde nossas vidas se desenrolam. É no agora que nos encontramos e nos alegramos e sofremos. Por isto, não tenha pressa.
Sei que chegará a época na qual você será tomado por angústias do tamanho do mundo, quando seus objetivos parecerão inatingíveis e você chorará sozinho escondendo as lágrimas.
Alguns projetos realmente são irrealizáveis, mas não há como evitá-los e você só descobrirá isto na derrota. Não tema fracassar. São as perdas que concedem maior valor às vitórias.
Não tenha pressa. Por mais que você caia, caia e caia, se você tiver paciência e determinação, fatalmente conseguirá se erguer e caminhar.
Hoje, você é tão pequenininho que até comer é um desafio. Este desafio será substituído por outros inúmeros, que sempre darão a impressão de serem muito maiores do que você. Não tenha pressa. Tente, erre, acerte. Aos poucos, você criará sua própria história e, ao olhar para trás, verá que tudo foi como teve de ser. Talvez até se arrependa de algo, mas terá de conviver com isto. Não se pode mudar o passado e, para muita gente, esta é a mais triste das verdades.
Não tenha pressa, pois a vida aparentará ser longa em vários momentos críticos. A chegada da idade adulta parecerá tardar demais. A tristeza parecerá interminável. O amor, que nunca virá. Que as dívidas são impagáveis. Todavia, você verá que tudo aos poucos entrará nos devidos lugares, que os medos eram ilusórios, que muito se resolve por conta própria, às vezes sem empreendermos esforço algum. Simplesmente ocorre.
Não tenha pressa e não desista. Muitos lhe dirão que não é possível, que você não foi feito para isto, que a vida não é assim. Você pode ouvi-los e se acomodar, passando o resto de seus dias remoendo migalhas. Ou você pode prestar atenção a mim e persistir, pois eu lhe digo que vale a pena e que o segredo está na persistência. Portanto, não tenha pressa.
Talvez, com o tempo, você consiga. Talvez não, mas está tudo bem também, pois assim é a vida.
Não tenha pressa, ou melhor, apresse-se.
Apresse-se para viver o hoje, para amar, para ser feliz, para beber todas as experiências e levá-las consigo na memória.
Apresse-se para descobrir quem você é, qual é a sua essência única, que o distingue dos demais, pois eu lhe asseguro, ninguém mais neste mundo é como você.
Apresse-se para ouvir, ver, ler, comer, conhecer pessoas, viajar, mergulhar de cara na vida e descobrir o que ela tem de melhor e de pior. Apresse-se para ter discernimento, possivelmente uma das qualidades mais essenciais.
Apresse-se para sorrir, pois a vida é fugaz como um relâmpago.
Apressar-se e não ter pressa não são oposições. Pertencem às nossas contradições humanas.
Deixo-lhe estes conselhos, mesmo sabendo que talvez você não os escute, mesmo que você venha a desconfiar que eu não esteja vivendo sob tais preceitos.
Então, um dia, você também terá um pequeno nos braços e desejará poupar-lhe de todos os sofrimentos e mágoas. Também se sentará e refletirá sobre uma porção de advertências, de admoestações, de ensinamentos. Também se sentirá impotente, como se estivesse tentando abraçar o ar.
Neste dia, você se recordará de mim.
Madri
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